D'propósito

3 de fevereiro de 2016

Miles Ahead

Para os fãs de Miles Davis e de cinema saiu o primeiro trailer sobre um dos maiores gênios da história da música, "Miles Ahead", dirigido e estrelado por Don Cheadle, que ficou igual ao músico!

A estreia está prevista para abril nos EUA, enquanto a data no Brasil não é confirmada a gente aguarda ansiosamente. Confere aí! 

1 de novembro de 2015

Falta alguma coisa

Descobri que faltava você sentir minha falta com o mesmo sentimento, como quando sabemos, que esquecemos alguma coisa. 
E ficamos o caminho todo tentando descobrir o que é.

Falta alguma coisa.

7 de abril de 2015

Burnout

Minha cama era o que me separava do mundo. Os sonhos que construí sobre ela e nunca realizei, a preguiça de sair e encontrar pessoas, a falta de coragem para ir a academia ou trabalhar para uma empresa que não me oferecia há muito tempo mais do que uma vista bonita da cidade e vários motivos que me fizeram gostar de ficar na cama e no quarto vendo netflix do que ir a qualquer lugar. A culpa era da cama, por ser tão boa, pensava eu.

Tendo observado sobre o oceano que construí entre o que fui socialmente - um dia - e o que me tornei, achei que precisava tomar uma providência. Troquei de cama e colchão para tentar ser mais social e me aproximar do mundo, só não troquei minha colcha preferida, a amarela. Existe amor entre nós, confidências, carinho e uma entrega mútua que faz dormimos quase que abraçadas. A colcha amarela tem muito mais do que a função de cobrir e ser bonita. A colcha amarela é o que me conecta com a naninha gostosa, bem parecida com aquelas férias de julho da infância, que acordava e ia direto pro sofá ver desenho com a coberta e em algum momento cochilava de novo.

Além da cama, tudo do meu quarto também foi embora, a colcha amarela ficou. Mudei radicalmente e no princípio ajudou, acordei mais cedo alguns dias, meu corpo ainda não tinha se acostumado a nova cama, reclamava, apesar de ter trocado a de solteiro pela de casal para me sentir mais adulta na casa da minha mãe. Inicialmente fez efeito, depois já nem tanto. Então pensei que era a colcha amarela que me separava do mundo e me segurava todas as manhãs.

Alguns amigos disseram que depois da mudança é que não sairia mesmo de casa. Mas desde que entrei no ritmo amo-ficar-em-casa-e-não-quero-sair, li mais, vi mais filmes, estudei mais inglês e vi menos pessoas. Com o tempo fiquei com preguiça até de ver meu namorado, um problema para relação, naturalmente.

Há uns dois anos quando fazia terapia, fui orientada que precisava tomar cuidado com meu posicionamento. A terapeuta disse, “você está com um comportamento que acha que está melhor sozinha e isso não é bom, senão acabará mesmo”. Concordei e achei que sim. Mas eu gosto muito de estar sozinha, não era assim, sempre precisei de uma companhia, mas agora gosto. Deve ser como pro gordo que prefere ser magro e tem de viver no regime. Sempre fui magra, nunca precisei de regime e nem posso imaginar em fazer, a genética me acostumou a ser livre para comer tudo e também para ser sociável. Agora estou com alma de um gordo que não quer regime. Na verdade entrei no regime de pessoas e ganhei muito tempo.

Apesar de preferir estar só, encaro com cuidado meu comportamento e até como um certo defeito. Reavaliei de novo: o problema talvez seja São Paulo e não a cama, e não a colcha amarela. Alguém tem que ter culpa. Fiquei meses brigada com a cidade, rejeitando a paulicéia desvairada e descarada. Resolvi viajar, a melhor maneira de olhar pra dentro e para fora com distanciamento necessário para identificar as falhas no sistema. O que me coloca como uma pessoa social é o fato de gostar de conhecer pessoas quando viajo. Sim, ainda bem. Fui à Amsterdã e em uma noite percebi lá que o problema não era minha cama, minha colcha amarela ou só a cidade, descobri que tive Burnout. Que palavra linda, que sonoridade, que significado, que alívio em descobrir o que sentia. 

Em Amsterdã quem sofre de burnout fica afastado da empresa e recebe todo acompanhamento e tratamento psicológico. Em São Paulo, normalmente, não. Pelo menos não na minha empresa de vista bonita. Pobre e classe média tem de lidar com burnout de outra maneira, talvez na terapia particular sem deixar de trabalhar. 

Eu não precisei de terapia para descobrir que foi um esgotamento e uma fadiga crônica. E como a maioria dos diagnosticados com burnout, larguei tudo. Vou recomeçar longe, com um medo e uma curiosidade danada e, por enquanto, sem minha colcha amarela preferida, que estará a minha espera na volta pra me abraçar com novas histórias.

18 de março de 2015

Doce Sebastião

O trocadilho infame do título é porque a imagem que tinha de Sebastião Salgado mudou completamente e para melhor, depois de hoje, na cabine do filme O Sal da Terra, documentário que concorreu ao Oscar e mostra a trajetória do fotógrafo e as histórias de muitas de suas imagens.

Sempre admirei o profissional, porém considerava uma figura quase inalcançável e o achava até um pouco soberbo, por algumas entrevistas. Me agradava o trabalho mas não exatamente o homem. Uma tolice, passei anos completamente equivocada. Depois de ter visto o documentário comecei o admirar como homem, cidadão do mundo e de uma alma iluminada. O documentário traça um pouco de sua vida pessoal, porém, o foco de toda a trama, na verdade, acaba sendo os personagens de suas fotos.

Salgado nos conduz na maior parte do filme com sua narrativa, em francês, através de sua obra colocando o público para dentro da história de suas imagens; uma viagem pelo passado revelado pelo o olhar de quem conviveu meses enraizado, vivendo costumes e dificuldades como seus fotografados. E o que me parece mais surpreendente é que ele não dá o depoimento voltado para sua experiência complicada ou prazerosa. Isso está implícito, mas Salgado pouco usa o "eu" e revela o que exatamente interessa: histórias.

O filme é tocante, chocante e, pra mim, revelou detalhes da história do planeta que não sabia, como o genocídio em Ruanda, na África, e os poços de petróleo que explodiram do Kuwait. Me perguntei por onde andei que nunca soube. Vergonha. Mas acontece. Obrigada, Sebastião e aos diretores do longa, Win Wenders e Juliano Salgado.

A coadjuvante dessa obra toda, filme e carreira de Salgado é sua mulher, Lélia. Penso que seria possível um segundo filme só pra falar da força e parceria que houve enquanto Sebastião caía na estrada para revelar o mundo e realizar um sonho.

A beleza desse documentário está, sobretudo, na realidade e na esperança e possibilidade da vida.


17 de março de 2015

Salve Elis!


Hoje a Pimentinha faria 70 anos! E imagina se ela estivesse viva, que delícia, que curiosidade. Não é preciso descrever em um post sobre a importância e potência musical da cantora. A boa notícia é que em comemoração a data a família lança um site oficial com fotos, vídeos, áudios, discografias e vários detalhes inéditos da maior cantora do Brasil. Só de deixar o site aberto já é maravilhoso, porque fica rolando alguns sucessos. Além disso, Julio Maria, jornalista do Estado de SP, lança hoje "Nada será como Antes", a biografia que estou ansiosa para ler pela escrita de Julio e pela história de Elis.

Agora as comemorações não param e dias 23 e 24 de maio acontece o show "Elis, 70 anos", no Palácio das Convenções do Anhembi. Um projeto do seu filho João Marcello Bôscoli que apresenta o espetáculo ao lado de Miéle contando histórias e chamando vários compositores importantes da trajetória de Elis para interpretar os sucessos. 

Tudo imperdível. O site, o livro e o show.

Confira o site: www.elisregina.com.br/


Os ingressos para o show estão a venda pelo site: www.ticket360.com.br.

Há inúmeros vídeos de Elis pela internet. Mas eu adoro a alegria dela nesse vídeo com Rita Lee. Mais ardenta que Pimenta!

Salve sempre e saravá, Elis!


15 de março de 2015

Voltamos com a programação

De volta, mas não com a programação normal.  Com quase oito anos de existência, ainda que com ausência, o D'propósito segue e veste uma nova roupa e se reapresenta. Mais clean, mais musical, mais eu, mais histórias, mais Tim, mais tudo.

Mudei. E mudar é bom! Não sou mais a garota, como descrevia no antigo formato,  por isso trabalhei para deixar esse canto com a versão mais próxima do que sou agora, sem perder a essência e o bem que escrever me faz.

Bem-vindo de novo.

31 de janeiro de 2014

Do caminho


No congestionamento que existiu entre a saída e a chegada, entendeu o silêncio no caos. Cruzou o novo. Sem alarde a estrada é o horizonte.

Vida com paisagem e amor.


12 de novembro de 2013

Vamos dar um tempo

Vivo um casamento há anos, 13, sendo precisa. Mas não é um casamento comum e também não é com um homem. Não é uma relação de desejo, mas uma relação de amor que foi construída, fraternal mesmo. Para mim, que sou louca por casamentos e já fiz o pedido matrimonial para dois namorados e me pediram uma vez, que por sorte, nada foi adiante, a não ser os sorrisos soltos depois dos pedidos, refleti como existem várias formas de estar casado com alguém. 

Vivemos longos casamentos com nossos familiares, até que se saia de casa pra viver sozinho. Mas além da família que a genética e Deus dá, temos a família que escolhemos: as velhas, boas e trabalhosas amizades. E desse casamento que sofro agora.

De grandes amigos, feitos no berço da infância e adolescência tenho três. Dois homens e uma mulher. A mais longa amizade no alto dos meus vinte-e-cinco-anos foi com ela, que sempre esteve presente em praticamente todas as histórias vividas até aqui. E o que mais tivemos nesses quase 13 anos a serem completos em janeiro, foi diversão e crise. 


E eu aposto que você, do outro lado se pergunta agora, que tipo de amizade é essa que se parece um casamento? A do tipo que você estuda ginásio e colegial na mesma sala, mora no mesmo prédio e passam em média 12 horas juntas. Depois, na vida adulta, ainda trabalham uma temporada juntas, se falam todos os dias por várias horas, suas famílias viram uma só e todos já pensam que são irmãs. É assim que se faz um casamento numa amizade, além, claro, de superar todas as dificuldade de grana enquanto uma está desempregada, de estimular a sair a outra que está sem namorado, de ser capaz de se divertir mesmo vendo TV em pleno sábado à noite e também de dar espaço a vida social à parte que a outra leva.

Em quase 13 anos não teria como enumerar as vezes que brigamos, foram muitas e é o tempo todo. Mas cabe em uma mão em quantas nos separamos. Sim, porque como num casamento comum, passamos por crise de não suportar a outra e pedimos um tempo. Acho que ao longo desses anos houve três períodos que foi inevitável a separação. Um ainda na adolescência que minha memória já não consegue lembrar o por quê. Outra em 2010, na minha fase 'sexo, drogas e rockn'roll' que, confesso, eu estava insuportável. E agora. 

Numa relação que apesar do companheirismo o que mais temos feito é nos desentender e desapontar a outra, eu pedi um tempo. Cansei de brigar. Sou de libra, não aguento discussão por muito tempo e você, geniosa, não sai de uma até vencer, ainda que pelo cansaço.

Eu sinto muito por não acompanhar de perto um sonho seu e fico orgulhosa por realizar o que sempre desejou, trabalhar numa multinacional que te dê o mundo e todas as oportunidades. Desculpe mesmo, porque quando realizei o meu de trabalhar na TV Cultura, você estava ao lado da primeira ligação do RH até o dia da minha admissão e durante toda a trajetória que ainda segue. 

Eu entendo que casamentos se desgastam e renovar é tarefa difícil, até na amizade que é das relações mais duradoras que um homem costuma fazer. Mas, sobretudo, o que mais aprendi nesse período sobre casamento é de como o amor se fortalece na confiança cega sobre o nosso parceiro, vivemos descolados da insegurança e muito junto do companheirismo. Pra todos os meus casamentos é isso o que desejo e que aprendi com você. E entendo que mais uma vez esse tempo não é para sempre, é para esperar sua fase passar e para fortalecer o que nunca deixaremos de ser.

10 de outubro de 2013

Para não esquecer

Das fragilidades da vida, a minha maior sempre foi a memória. Não sou capaz de lembrar uma história por completo, recordar de pessoas, filmes, que dirá nomes. Pra isso tenho Google e melhores amigos que me relembram cada detalhe da nossa infância para que eu não me perca. E uma estagiária, é verdade, que me lembra o nome de todas as pessoas com quem trabalhamos e qualquer ator que tento recordar. Mas ela, como todo estagiário, criou asas e voou para ajudar outras cabeças. Boa sorte, axé, saravá! Deseja minha Bahia.

Escrever, aqui, sempre foi uma maneira de manter minha memória viva. Reler os arquivos do blog é como voltar no tempo, à mesma sensação de ver foto, um misto de prazer e saudade. Mas confesso, há textos produzidos que não sei se foram de fato reais ou ficção. Uma vez minha terapeuta perguntou sobre um texto antigo, de 2008, se tinha acontecido de verdade. Eu não soube responder com certeza.

As pessoas ficam irritadas, indignadas, “mas como pode você não lembrar das coisas que viveu?!”

Não sei, não lembro e isso não é D’propósito, juro. O que pode ser muito bom, porque até as coisas ruins o tempo faz o favor de apagar. E por falar em apagar, entre inúmeras tentativas de aniquilar o blog, por conta de não escrever mais com frequência, a causa de nunca ter conseguido ainda é por guardar a minha memória aqui. Mas acontece que dia desses, com essa coisa de inferno astral etc e tal, andei cabisbaixa, triste, abatida.  

Nesse momento tem a deixa para o Eulírico perguntar. 
- E quem foi que abateu?


Meu coração batido, dilacerado, feito pedacinho de novo. Um desânimo da vida.

Mas num desses encontros felizes conversei por acaso com uma amiga sobre futuro, rotina, amadurecer e como era bom ter 19 anos. E quase como um conselho ela me disse, “você era alegre e feliz, escrevendo no blog quase que diariamente porque nele você deixava tudo que sentia e seguia mais leve”.

E foi então que entendi porque eu realmente escrevia. Tinha me esquecido. Achei que era pra lembrar. Não. Era para caminhar mais leve e esbanjar a alegria que todo mundo sempre me pediu pra nunca perder. Escrever, na verdade, era minha terapia e evolução. Escrever foi o modo que criei de não esquecer como amadureci.


E mais adiante na conversa com um pouco mais de alegria comentei que tudo o que eu queria agora, quanto ao amor, era fugir de badalação, pessoas famosas, conhecidas, pseudo-notáveis, ou com uma ideia na cabeça e uma mochila nas costas. Eu só quero alguém mais perto do normal possível. Com um emprego normal, com horários normais, com uma vida normal, mas que tenha o mesmo gosto cultural que eu!
Ela gargalhou e me disse, “cara, você está velha mesmo!”


É, sinto o cheiro do renew e dos 30 daqui e como sempre, prometo, mais uma vez - se eu não esquecer-, voltar a rabiscar pra continuar desenhando a alegria cotidiana de antes e de sempre.

3 de setembro de 2013

Minha direção

"Voltando da sua casa ontem, reparei que eu tinha ficado lá"

Uns adolescentes cantavam isso ontem pela rua e pensei, é verdade! Eu não consigo ir embora de você. Toda vez que vou, eu fico. E volto. E quase sempre me perco pelas ruas todas iguais do seu bairro. Se perder é a melhor maneira de conhecer caminhos novos, viver a saudade e ter um pouco mais de tempo com você ao telefone me orientando o caminho de ida e volta pra você.

29 de maio de 2013

Desafie

Acredite nas perguntas, mas duvide sempre das respostas. A dúvida é a certeza interior.

23 de maio de 2013

Olá e olé

Aquela sensação que acontece há cada dois ou três anos, conforme a arritmia amorosa de cada coração. O frio na barriga, a ansiedade e a vontade enorme de viver e realizar todos os projetos pra tudo ser um sucesso. E tudo é! O trabalho se torna criativo, a literatura inspiradora, as músicas fazem sentido, os filmes são coincidências de nós, a poesia completa e concreta, todos os sorrisos de graça e os abraços apertados e doados. Essa sensação de estar apaixonada,  - completa e loucamente - a incerteza da vida. Estou a essa sensação sazonal que na chegada nos dá um olá e um olé!

Viver é muito bom, ser jovem é melhor ainda!

6 de maio de 2013

A chuva já passou

De canto de olho te observei hoje. Não queria que reparasse, não quero te deixar sem graça e também não quero ficar, mas, notei que seus cabelos brancos aumentaram e acho que não demora muito para ficar grisalho. Seu rosto demonstrou um cansaço que está além de uma noite mal dormida. Seu corpo me parece mais frágil, suas mãos um pouco ressecadas e ao mesmo tempo mais delicadas, seus olhos fadigados e suas rugas...! Minhas linhas preferidas do seu corpo, antes seria capaz de escrever umas 60 páginas só sobre elas. Suas rugas me pareciam tão bonitas, elas sorriam. É lindo ver uma ruga sorrir e contar histórias. Eu te lia pelas linhas que a vida escreveu em você. E gostava.
Já morou uma gargalhada minha no lugar onde suas rugas sorriram.

Agora, suas rugas não sorriem mais. Não sei por que, talvez sejam meus olhos que não veem mais encanto. Mas você ainda sorri, um pouco, quando fica sem graça e de uma piada ou outra.

Te olhei muito, reparei tanto em você, mas só hoje consegui enxergar. Não são mais as suas rugas, são as que eu criei para outros olhares.

Igual ainda continua o teu abraço confortável, gosto dele, é um abraço bom para ficar e esperar qualquer chuva de verão passar. Ficaria mais se tivesse tempo. Não tenho. A chuva já passou.


23 de abril de 2013

Conselho

Uma história só tem fim quando a gente quer,
enquanto alimentar qualquer sentimento ou ressentimento
nunca terminará.
Seguir em frente é uma decisão
Esquecer é a consequência


 de um começo feliz.

18 de abril de 2013

A palavra desculpa

Meus olhos só enchem facilmente de lágrimas com um pedido de desculpa. Quando intensa e sincera não há palavra mais reverberante do que a desculpa saída de uma boca e coração arrependidos. Se quiser me fazer chorar diga desculpa. E a escusa não precisa ser diretamente para mim, pode ser da mesa ao lado depois de uma discussão, pode vir do cinema, da literatura, do teatro ou da música. Eu me encontro num pedido de lamento. Mas quando for dizer, diga de verdade!

Quando criança me lembro de ficar de castigo por não pedir desculpa depois de machucar aos meus primos e irmão. Na adolescência continuei sofrendo com o orgulho e a dificuldade de pedir desculpas para quem, de alguma forma, eu magoava. A palavra desculpa é meu trauma. Uma criança mordida por um cachorro talvez passe o resto da vida com medo. O perdão me mordeu com uma ferida aberta. A palavra desculpa me fragilizou antes de cicatrizar, não posso vê-la sendo pronunciada que meus olhos enchem de uma esperança de escorrer.  

Agora sou sensível.

17 de abril de 2013

Me busque

Ele começou me dizendo em tom de segredo sobre sua intimidade que, pra mim, sempre foi um mistério.

- Vou te contar uma coisa, acho que não devia, mas ele ainda gosta muito de você.

Não sei se acredito num segredo que não saiu da sua boca. Minha réplica e retórica é de que seja impossível já que seguimos nossas vidas. Você tem um relacionamento e eu também. Eu amo o passado, mas caminho é pra frente. E tento. Tem tanta vida para se descobrir.

Insistente, repete, ele ainda gosta de você e não é pouco! Repete como quem vence uma aposta para eu parar de teimar. Balanço como haste fina com a brisa, mas não envergo! Bato o pé e não acredito. Teimo porque não quero acreditar, mesmo sentindo uma ponta de felicidade eu só acredito no verbo saindo da tua boca. Te testo, chego perto e você recua. Covardia sempre foi seu forte, mas eu te encorajei, você se tornou mais homem depois de mim e vai continuar me chamando de pretensiosa e no fim admitindo tudo o que digo. Mas antes vamos discutir.

Duas pessoas que se desejam não têm como não darem certo, uma hora o sofrimento vem, mas ele ainda gosta de você, diz seu amigo que não cansa de te entregar e me convencer, então, volte, diga e me mostre. Gosta quanto? Gosta como? Lembra quando eu lhe perguntei isso, escovávamos os dentes para dormir. Você disse, gosto de você, mas nunca disse quanto ou como. Meus cachos são feitos de liberdade, adoro ir, adoro o vento trazendo o novo e pra ficar eu preciso de muita segurança, senão, vou. E fui. Deixei você porque me deixou antes com sua covardia. Pratique a coragem, volte e me busque, é a chance que eu nos dou para você largar tudo e eu também.



25 de março de 2013

Nota de um moleskine

Descobri que por todas as pessoas por quem fui apaixonada, na verdade, o que eu queria é ser como eles. Eu tinha admiração e um ideal em cada pessoa. Eu queria ter a inteligência de um, o carisma e talento de outro. A vida tranqüila de todos. 

Acho que o quê eu sinto falta é do estímulo que sem querer essas pessoas causavam em mim.

14 de março de 2013

Questões

Vontade não sei do quê
Saudade não sei de quem
Perguntas não sei pra quê

Respostas, sem notícias de quando vem.

19 de fevereiro de 2013

Literapia


*“Ele te aproxima do que você foi e da melhor parte que guarda em você. Porque de alguma forma ele te faz querer as coisas que sempre quis e que por descuido esqueceu.”

-              -  Você pode ler de novo pra mim.

“Ele te aproxima do que você foi e da melhor parte que guarda em você. Porque de alguma forma ele te faz querer as coisas que sempre quis e que por descuido esqueceu.”


E me pediu mais um vez, mais uma vez, quando chegava perto da sexta ou sétima releitura me olhou, passou as mãos no cabelo e disse.

-              -  Eu podia ser cruel com você e pedir pra você reler até conseguir ver e admitir, você não percebeu ainda?


Levantei as sobrancelhas e não disse nada.


-              -  Você o ama! Tá mais do que claro que você o ama.


Seguido de uma respiração longa e um silêncio, balançando a cabeça negativamente.


-           -  E agora? O que eu faço com esse amor?

         - Garçom, por favor, você fecha a conta pra gente!




Pra isso, ninguém tem a resposta de bate pronto. O que se faz com o amor é um prazer e problema de cada um. Se achar que a vida pode ser um filme, abandone tudo e corra atrás, só não crie expectativa de final feliz, filmes acabam e amores também. Paulo Mendes Campos já proclamou que O Amor Acaba, aí então, é que a arte se inicia.



*citação das aspas do livro: Sexo, Champanhe e Tchau, Mônica Montone.





26 de novembro de 2012

Isso de querer bem

Um dia inteiro, uma cama toda, o silêncio de quem tem tempo e os olhos dos dois fixos pro horizonte da alma um do outro.

-  Se você quiser eu fico com você pra sempre.

Quase 40 segundos depois ainda em dúvida ele repondeu:

-  Pra sempre?

-  Pra sempre.

-  Não sei.

-  É bom correr o risco.

-  Fica comigo hoje?



Olhos e bocas sorriem, juntos.

4 de outubro de 2012

Almoço

Oi, tudo bem?

Com sorrisos e olhares fixos, é o que dizemos um ao outro ao mesmo tempo e todos os dias. 

No resto do tempo conversamos pelo olhar e pelos curtos passos que damos, e gosto que seja assim. Caminha devagar, você e nós. Temos tempo, diariamente uns 50 minutos juntos, o suficiente pra você demonstrar que contraria a ditadura da beleza e me quer natural, nega quando eu apareço de cabelo liso e maquiada. Prometi, em silêncio, te pedir em casamento de cabelo molhado, vindo toda de branco, Que Maravilha, diria Jorge Ben! E você? Diga amém! Com todo teu jeito tímido e cheio de vontade.

Oi, tudo bem? 

Outra vez, mais um desejo, outro olhar.

Já sabe o que eu gosto de comer e não se importa que seja muito, sorri um pouco mais diante da minha fome e se oferece. Então, aumenta o meu desejo, mas não me farto, não ainda. Gosto dos começos, eles são tão rápidos. E pra te responder:

Tudo bem, tudo melhor agora.

18 de setembro de 2012

Arrepender-se II

Dias e dias sem escrever, culpa daquela tristeza que pega a gente na esquina de uma segunda-feira sem destino e enche o coração apaixonado de arrependimento. Virou a rua, perdi de vista, ainda bem. Passou. E passei dias repensando sobre o arrependimento, que no momento de fúria com o sentimento despejei rápido a um post abaixo. Que zombeteiro somos com nós mesmos e como o tempo é mesmo sabedoria, é o terapeuta popular, de graça, honesto e verdadeiro, te enche de perguntas e permite que você mesmo enxergue as respostas. 

O divã são as ruas, calçadas, esquinas, shows e cinemas. É a literatura, a história de outro diante do nosso olhar.

No meu modo de fazer terapia, além de ler a respeito, é pensar, pensar e pensar. Caminhando, ao volante, com os olhos perdidos na multidão analisei sobre o que sentia a respeito do arrependimento. Quantas vezes desisti por medo? Quantas dores uma decisão me causou? Quantas alegrias há numa vida de impulsos? Quantas histórias eu tive para contar? Quantas vezes eu ri na cara do perigo? Quantas vezes eu me superei? Quantas vezes eu fracassei? E quando foi que eu me arrependi?

Revisitei o passado e respondi pergunta a pergunta. Seria um absurdo dizer que nunca me arrependi. Claro que eu já me lamentei algumas boas e várias vezes e já quis mudar de idéia. E nem acredito em quem diz que nunca se arrepende. Mas comigo o arrependimento sempre foi temporário, porque na verdade era o sentimento de negação ao fato, somado a raiva de uma situação ou alguém. E está errado! Essa é só uma reação (natural?) de enfrentar meus fracassos afetivos. E isso não é arrepender-se, não por completo.

O arrependimento é o único sentimento que comprova o equivoco nosso, só nosso. O arrependimento é pessoal e intransferível, não existe culpado senão o eu. E quando se tem mágoa, irritação, fúria ou ódio de alguém não pode se lamentar por ter vivido determinada história. Afinal, enquanto a experiência parecia boa não surgiram dúvidas de seguir adiante e tentar um pouco mais.

Podemos nos arrepender por uma atitude nossa, - quando normalmente voltamos atrás e pedimos desculpa -, mas não por ter vivido uma experiência que não deu certo por uma reação oposta ao que podemos controlar.

E depois de dias refletindo, foi num trânsito de mais de uma hora na Radial, numa sexta-feira de calor que eu entendi que toda escolha é sempre a escolha certa, o arrependimento é só uma lição e uma oportunidade de melhorarmos. 



5 de setembro de 2012

Dois sorrisos.

Um achado perdido em uma bolsa qualquer, pelo estimado Moraes, meu poetinha do subúrbio, dentre os meus Moraes preferidos, que sempre soube me arrancar sorrisos.

Sorriso em voz

Por perto do meu redor
Sinto a presença auspiciosa e perene
De jeito puro, num silêncio entrecortado em voz
Vejo a aparição discreta da beleza tênue
Vem-me
Faz-me teu, de filho pródigo e amor solene

Porque de mulher exata
És antítese e prova
Com erros e palpites apenas me maltrata,
Quando bota aquele decote de blusinha roxa, ou o blush nas bochechas cor-de-rosa.
E depois o salto
Alto
e o dengo e charme na prosa

Ser a ti atento
Ver-te num instante de calma e a fúria a exaltar-te nas têmporas
Ver-te bufando feito o mais forte dos ventos,
E acalmar-te num abraço que cheira amêndoas

Pois adoro ver você, mulher
De ver como dos homens em nada depende, pelo contrário, és farta
Ao passo de até (imagine!) se vier
De encontro a ti, no banheiro uma barata,
Não pestanejas, mata.

Pára e me diz:
"ó de Moraes, vai à frente que eu tô a esperar na esquina"
Ora! Que gesto infeliz!
Não vês que não passas de menina?
Infâmia.
Deixe estar que eu hei de ter fama
E você em casa, na minha cama

Seja franca:
"Por que achas que de mim tem tudo?"
"Não bobinha, não são teus seios e não são as tuas ancas"
Que absurdo!
Na tua frente, sob os teus olhos, me sinto como se fosse nu
Gosto de ti porque é estranho garota.
Gosto tanto do seu All-Star, o branco e o azul

Mas que bela senhorita
Se fosses ao meu tempo, este vestidinho em que rebola as ancas
Era de chita
Esses homens são umas antas
Pensar que de fato são gigantes, que pelo tamanho espanta
Desarmaram-se num mal-me-quer
Feito criança com o copo de Fanta
Uva. Porque laranja minha mãe diz que faz mal à garganta
Acham que podem com o sorriso dela que encanta
Sorriso que vale mil palavras ou gestos. Sorriso de mil tons, ele canta.

26 de agosto de 2012

Arrepender-se

2. Mudar de intenção ou de ideia.
3. Desdizer-se.
4. Mudar de aspecto, ameaçando chuva

Se eu escrevesse um texto hoje só haveria xingaremos e palavrões, uma maneira de escorrer o arrependimento de uma história.
O arrependimento é feito cidade grande, uma hora acontece pra todo mundo.